Portugal, em conjunto com outros países, definiu uma meta que prevê a proteção de 30% de áreas marinhas até 2030. À Agência Lusa, Bárbara Horta e Costa, bióloga marinha do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, informa que a percentagem dos mares portugueses sob estatuto de proteção corresponde apenas a 2,1%, uma percentagem muito reduzida se considerarmos a meta definida.
Apesar de tudo a bióloga reforça que a existência de metas é crucial para o projeto de conservação. No entanto assume uma falha no cumprimento dos prazos uma vez que em 2020 já deveríamos estar a um terço do caminho com 10% das áreas sob proteção.
Para além dos problemas verificados no cumprimento dos prazos, num artigo publicado hoje na revista Science um conjunto de investigadores alerta para o facto da maior parte das áreas marinhas já protegidas não estarem a ser alvo das medidas de conservação devidas tendo em conta o seu estatuto.
Emanuel Gonçalves, investigador e administrador da Fundação Oceano Azul e que participou na elaboração do Guia de Áreas Marinhas Protegidas, denunciou à Agência Lusa a falta de recursos financeiros, meios dedicados e planos de gestão para, efetivamente, conseguirem recuperar e proteger a biodiversidade marinha.
Bárbara Horta e Costa alerta ainda que não é suficiente a criação de estatuto para uma determinada área, "é preciso haver planos de gestão, prever como é que se vai gerir uma área marinha protegida, o seu dia a dia, fiscalizar, ver quem está no terreno e envolver as pessoas. Muitas destas áreas são costeiras e envolvem a vida das populações. Se as pessoas, os utilizadores, não estiverem envolvidos, não percebem porque é que há determinada regra. De repente, perdem liberdade, não concordam e como também não há fiscalização, não cumprem”.
Para a bióloga marinha um forte indicador de sucesso das políticas de conservação é a existência de pessoas exclusivamente dedicadas à aplicação das medidas de proteção. As Ilhas Selvagens, na Madeira, são um bom exemplo da aplicação com sucesso das medidas de proteção "com vigilantes permanentes, um plano de gestão, um organismo de gestão dedicado e envolvimento das pessoas".
Ainda nas suas declarações, Emanuel Gonçalves reforça o parecer de Bárbara Horta e Costa quanto à importância da adoção de 30% de áreas marinhas protegidas. Indica ainda que segundo dados científicos a recuperação de stocks de peixe, recursos e proteção da natureza beneficiam de uma proteção total das áreas protegidas. No entanto, existe “uma barreira política que é a falta de capacidade dos decisores de implementarem níveis de proteção elevados”.
Fonte: LUSA
Foto | Portugal – Nuno Veludo/Pexels